"Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha historia sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer." Bernardo Soares

Aviso das Imagens

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Martha Medeiros

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se issoé possível, me ofereço como piloto de testes.
Sou a Miss Imperfeita,muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias,ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço comeles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites,procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhascontas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista,mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa,providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniõesligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e asunhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas queoperam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada,aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sualista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade elhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seriamodelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essaexpectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muitodurante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, senão aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vidainteressante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, nãoé ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto pordinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão deser indispensável.

É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempopara dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja dediscos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cincodias! Tempo para uma massagem.. Tempo para ver a novela. Tempo parareceber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempopara fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novopara seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar.Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se umdia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você podeser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de pontoou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixapostal. Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo afavor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super,se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bemavaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho desi. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que serindependente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito maislivre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentosda semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, amesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pelajanela..

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsaPrada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso,francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que umabolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado(ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nosdar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vidainteressante'.

(Martha Medeiros)

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